Parker Brothers versão Odyssey

Olá fãs de Odyssey, bem vindos ao meu blog… Hoje vamos falar sobre a parceria da Parker Brothers com a Philips, os jogos lançados, os protótipos e jogos que a Parker pretendia lançar para Odyssey. Então voltemos ao ano de 2002, quando Marcelo Ribeiro mantinha o site chamado Odyssey Mania que já não existe mais, na época, o site publicou uma troca de emails de BuckieB com Gil Williamson que trabalhou na versão de TutanKham para Odyssey. Este artigo é tão extraordinário e revelador que vou apresentar o texto original a vocês e fazer comentários sobre fatos que aconteceram depois daquele artigo.

Em 1984 a Parker Brothers lançou oficialmente 4 jogos para o Odyssey na europa: Frogger, Popeye, Q*bert e Super Cobra. Inclusive estes jogos também foram lançados pela Philips no Brasil na UD de 1984. Mas voltando ao artigo de 2002, um dos mais velhos rumores do mundo Odyssey era sobre um suposto 5º jogo desenvolvido pela Parker, mas não lançado. Esse 5º jogo se tratava de ‘Tutankham’, que foi lançado para outras plataformas, como o Atari 2600 e o Colecovision.


VEJA TAMBÉM: O QUE JÁ PUBLICAMOS SOBRE PARKER BROTHERS

 

Maurice Simon, mais conhecido como BuckyB, enquanto pesquisava pela Internet, encontrou o site de uma pessoa que, junto com um grupo, a Amazon Systems, trabalhou na versão de ‘Tutankham’ para o Odyssey, Gil Williamson. Trocou alguns e-mails com ele, que revelou muito mais surpresas e confirmou muitos rumores. O texto a seguir é a tradução da entrevista (na verdade, uma troca de e-mails) feita por BuckyB com Gil Williamson em 2002.

A Parker e o Odyssey
Gil Williamson iniciou assim este bate papo incrível… “Estamos falando de quase 20 anos, queria já pedir desculpas, caso minha memória falhe! Nós não temos nada documentado nem materiais relacionados àquele projeto, assim tudo que você vai ter, são minhas recordações”. Em 1984, estávamos fazendo um trabalho de hardware com Atari, em particular um conjunto de caracteres suecos e numerosos drivers de impressora para o Atari 800, quando um representante da Parker Videogames que conhecia nosso contato na Atari entrou em contato com a Amazon System. A Parker firmou um contrato com a Philips em Eindhoven para produzir alguns jogos para o Odyssey e a Philips estava atrasada ou o contrato não tinha sido assinado ainda… (eu não me lembro muito bem). A Parker tinha pedido à Philips o manual e o sistema de desenvolvimento, mas a Philips estava demorando muito para enviar, assim a Parker pediu à Amazon para fazer engenharia reversa na máquina. Charles Dear – um programador/engenheiro muito talentoso – e eu trabalhamos nisto por cerca de seis semanas dia e noite, e, usando todos os cartuchos que nós poderíamos colocar nossas mãos e usando folhas de dados para os componentes, nós pudemos conhecer, entender o funcionamento do processador, como era conectado, como a chip de vídeo trabalhava e assim por diante. Nós documentamos isso, usando um Atari 800, um editor de texto e um emulador. Nós demonstramos que haviamos conseguido quando escrevemos um programa simples que fazia um gorila caminhar ao redor da tela através do joystick.

Neste momento, a Philips não sabia do trabalho da Amazon, e eles eventualmente ofereceram à Parker um treinamento para desenvolvimento de Odyssey. O treinamento foi conduzido por Peter Inser, um sueco (que escreveu ‘Frogger’ para o Odyssey) que não trabalhava para a Philips, e parecia que a própria Philips não sabia muito sobre a máquina. A Parker enviou Charles e eu para o curso como seus representantes. Peter Inser era muito bom, mas também percebemos que tínhamos descoberto facilidades dentro da máquina que até mesmo Peter não sabia! Outros programadores da Philips também estavam participando do curso. Eu acho que o gerente de desenvolvimento de jogos da Philips se chamava Ko Schutter.

A Parker assinou contrato para que nós desenvolvêssemos ‘Tutankham’ para o Odyssey. A Philips achava que teríamos dificuldades com a rotina de desenvolvimento, mas nós construímos a nossa própria rotina usando um Atari 800, e começamos a desenvolver. Nós entregamos ‘Tutankham’ para a Parker, eles gostaram e começaram a produção de caixas, manual, etc. Nós também fizemos o design para um jogo baseado em ‘O Senhor dos Anéis’ e ‘STAR WARS: Death Star Battle’

Eles também assinaram contrato para um outro jogo baseado em ‘STAR WARS’ com uma companhia húngara, a Novatrade, que usou um sistema de desenvolvimento PDP11. A única coisa de que eu me lembro sobre a Novatrade era um programador chamado Czar, que escreveu um jogo idiota para o C64 onde um monstro dançava enquanto o jogador tentava atirar nele. A Parker também nos deu meia dúzia de jogos do Sinclair Spectrum para desenvolver.
(Nota do Mago Odyssey: este outro jogo Star Wars, tratava-se de Star Wars: The Empire Strikes Back, lançado para Atari 2600 em 1982)

Quando todos nós estávamos no meio do desenvolvimento – isto era na metade de 1984 – a Parker decidiu de repente encerrar o negócio de cartuchos de jogos. Como éramos pagos por trabalho feito e por trabalho em curso, não fomos prejudicados. Nessa época, fomos direcionados para o trabalho de Defesa em criptografia e deixamos todos os jogos para trás. 

Abaixo, você vai ler a reprodução das perguntas e respostas por e-mail…

 

O Odyssey europeu, “Videopac G7000”, foi lançado originalmente como “Odyssey2” nos EUA por uma companhia chamada “Magnavox”, que é a divisão americana da Philips. Essa é uma das razões que me motivou saber sobre a Amazon Systems. Nestes estudos vi que haviam alguns jogos e até protótipos de jogos nunca lançados, jogos europeus que parecem ser de uma equipe de programação holandesa chamada “GST-Video”, mas fora isso, a maioria, se não todos os jogos da ‘Philips’ foram escritos por alguns americanos (Rex Battenberg, Bob Harris, Steve Lehner).
Sim. Eu me lembro agora.

 

Você pode nos falar um pouco mais dos membros da equipe, quem eles eram e o que faziam?
Eu fazia Design dos Jogos e coisas técnicas. Charles Dear, trabalhava com programação e engenharia. Ele era um hacker de hardware e programador muito talentoso. Eu e ele fizemos engenharia reversa no Odyssey quando não tínhamos informação alguma para trabalhar.
Les Fairbrother, que trabalhava com os softwares que nós usávamos nos diferentes sistemas em que trabalhávamos, ele projetou e codificou o Sistema Operacional que nós usávamos em Spectrums, e escreveu um compilador ADA, mas nunca trabalhou com o Odyssey.
Nicholas Williamson, meu filho que tinha 14 anos na época, projetou os gráficos para o jogo e faria protótipos de hardware e assembly. Ele desenhou os gráficos (sprites e fundos) no papel para serem postos depois no computador. Ele ainda está trabalhando com computadores hoje em dia.
Finalmente, a minha esposa Beryl Williamson, e nada disso teria acontecido se não fosse pela sua habilidade em administração de projetos. Ela fez um trabalho tão bom para a Amazon que a Parker mais tarde a contratou como consultora para coordenar algumas de suas operações européias em produção, sub-contratos e controle de qualidade. Ela trabalhou na Parker por um bom tempo.

 

Você teve que de fato fazer engenharia reversa no Odyssey, o que a Philips achou disso? Porque eles simplesmente não deram a vocês a informação de que precisavam?
Eles ficaram sabendo da engenharia reversa. Eu acho que ficaram impressionados, pois naquela época, eles usavam plataforma Unix e ferramentas muito caras para desenvolver jogos, inclusive, percebiamos que eles acreditavam que nós faríamos um trabalho limitado, não acreditavam que pudéssemos fazer o mesmo trabalho, melhor e mais barato. Se eu me lembro corretamente, eles não tinham nenhum emulador de ROM. Eles gravavam um chip a cada teste, o que tornava o desenvolvimento muito lento.
A Philips ficaria contente de poder ajudar com qualquer informação que precisássemos, mas eles não tinham as informações de uma forma que nos ajudasse, então nos ofereceram um curso conduzido por Peter Inser, um sueco, que tinha escrito a documentação de desenvolvimento para o Odyssey.

 

Deixe-me ver se entendi corretamente. Você e Charles Dear fizeram engenharia reversa no Odyssey, documentaram tudo, e escreveram um emulador de Odyssey para o Atari 800? Impressionante! Deve ter sido um dos primeiros emuladores! O jogo do gorila, só rodava no emulador ou você fez um cartucho realmente dele?
Ah! Eu confundi você. Não era um emulador de Odyssey – era um emulador de ROM. Nós escrevemos nosso próprio assembler para o 8051 em BASIC, e enviávamos o programa via RS232 para a caixa emuladora (que Charles construiu). O emulador tinha uma placa que plugava diretamente no Odyssey, e nós podíamos fazer mudanças e testes com bastante facilidade, sem ter que gravar uma ROM toda hora.

 

Ah, o que mais que você e Charles descobriram no processo da engenharia reversa?
Essa pergunta é muito difícil. Acho que diferentes modos de vídeos.

 

Sobre o que você revelou de ‘Tutankham’, foi muito, muito interessante. Ninguém jamais soube se ‘Tutankham’ foi de fato finalizado, ou se o trabalho nele tinha realmente começado! Você acabou de me deixar (e a um monte de outras pessoas) muito feliz : -)
Havia algumas propagandas em revistas alemãs, até mesmo rumores que o jogo iria ser lançado no Brasil, mas ninguém jamais pôde confirmar isto. Mas isto realmente significa que o jogo completo pode estar circulando por aí! De qualquer maneira. A Parker ficou com uma cópia, e eu acho que nós enviamos uma para outra para Ko Schutter.
(Nota do Mago Odyssey: Só mais tarde, no ano de 2004, o protótipo do Videopac G7000 Tutankham foi finalmente encontrado. Por vários anos acreditou-se apenas em rumores de que o jogo existia…)

 

Você tem alguma idéia de como seriam as caixas, manuais e cartuchos?
Não. Nós nunca os vimos, mas lembre-se de que havia ‘Tutankham’ para o Atari, assim eu acredito que eles usariam o mesmo estilo.

 

Há alguns jogos encontrados que nunca foram lançados; outros foram encontrados sem instruções, porém em alguns casos, foram achados protótipos acompanhados de manuais. Alguns jogos foram lançados em outros países em uma versão diferente. Também tinhamos versões com gráficos plus do Odyssey na Europa.
Eu me lembro que a Philips estava trabalhando em ‘Popeye’ e ‘Super Cobra’ para o Odyssey ao mesmo tempo, além de ‘Spiderman’, eu acho. Algum destes foi lançado?
Sim, foram lançados Popeye e SuperCobra
(Nota do Mago Odyssey: A descoberta desse protótipo foi relatada pela primeira vez pelo site Odyssey Mania em dezembro de 2003.  A Parker Brothers licenciou o personagem Homem-Aranha da Marvel Comics Group por volta de 1982 e imediatamente começou a criar videogames em torno dele. Embora a empresa tenha conseguido lançar o Homem-Aranha para o Atari 2600, a versão para Odyssey nunca chegou ao mercado. Só haviam sido encontradas capturas de tela que mostravam que a versão do Odyssey era bastante semelhante a lançada para Atari 2600. Nesse jogo, o Homem-Aranha deve evitar perigos ao escalar a frente de um arranha-céu amarelo em seu caminho para um confronto final com o Duende Verde. O jogo para Odyssey também contém uma tela inicial diferente do padrão. Rumores de Spider-Man para Odyssey começaram em junho de 2002 e foram confirmados nesta entrevista com Gil Williamson. O colecionador René van den Enden também encontrou uma referência ao título em um artigo de uma edição de 1984 da revista alemã Commander-ROM .  Bas Kornalijnslijper adquiriu finalmente o protótipo do Odyssey e lançou uma versão em cartucho de reprodução do Homem-Aranha no Retro Computer Meeting em Scheidam ne Holanda, em 9 de abril de 2006, Hoje o protótipo pertence a Mark Verraes que autorizou o lançamento do jogo pela Odyssey Brasil para o Mercado Brasileiro. Em breve teremos novidades.) 

 

Sobre o jogo baseado em ‘O Senhor dos Anéis’: Talvez seja ou tenha se tornado, ‘Em Busca dos Anéis Perdidos’? O jogo utiliza um tabuleiro e peças, como moedas com castelos nelas. Você fez somente o design de jogo mas não o codificou de fato?
Talvez. Nós o projetamos como um tipo de jogo de guerra, mas não consigo me lembrar direito. Mas lembro que não o codificamos.

(Nota do Mago Odyssey:  Em 2002 quando foi feita a entrevista, BuckieB por não saber que a Parker pretendia lançar o Senhor dos Anéis para Atari, acabou achando que esta resposta se tratava de Em Busca dos Anéis Perdidos, mas na verdade em 1983 a Parker anunciava em seus catálogos que o jogo “O Senhor dos Anéis: Journey to Rivendell” seria lançado no inverno de 1983 para Atari 2600 e Atari Home Computer. A descrição revelava que o objetivo do jogo era levar Frodo do Condado até Moria. Em uma descrição posteriormente alterada no catálogo de de 1983 da Parker Brothers Video Games, alterava o destino de Frodo para Valfenda. No mesmo catálogo o jogo foi anunciado pela primeira vez como “O Senhor dos Anéis: Viagem a Valfenda”, e foi o último anúncio que o jogo recebeu. O jogo nunca foi lançado e acreditava-se que pouco ou nenhum trabalho havia sido feito. Quase vinte anos depois de O Senhor dos Anéis: Viagem a Valfenda ter sido anunciado pela primeira vez, nas semanas que antecederam o lançamento do primeiro filme, um ex-funcionário da Parker Brothers deu um protótipo do jogo a AtariAge. Surpreendentemente, o jogo era bastante complexo e parecia estar completo. A descrição mais completa também dizia que objetivo do jogo era viajar com Frodo do Condado até Valfenda, evitando os Cavaleiros Negros. Se Frodo fosse capturado por eles, seria mandado de volta a Valfenda com o ferimento. Se Frodo for ferido muitas vezes ou não conseguir chegar a Valfenda em 7 dias, o jogo termina. Conforme o tempo passa, os Nazgûl se tornam mais rápidos e mais difíceis de serem evitados por Frodo, especialmente à noite. Frodo pode receber bônus úteis, como movimento mais rápido, explorando e encontrando outros personagens de O Senhor dos Anéis . Os outros personagens do jogo são Sam, Aragorn, Gandalf, Tom Bombadil e Glorfindel , porém, devido à baixa resolução do Atari 2600 e à falta de um manual oficial de referência, as identidades de alguns personagens do jogo são debatidas pelos jogadores. Os personagens Glorfindel e Tom Bombadil do jogo são frequentemente interpretados como Legolas e Gimli, respectivamente. Um segundo protótipo do jogo, denominado “WIP .17”, foi finalmente descoberto. Há menos de dez bytes de dados que distinguem o protótipo WIP do primeiro protótipo, que foi rotulado como “LOTR”. O protótipo LOTR é considerado a versão mais finalizada dos dois. As duas versões, ao chegar a Valfenda, tocam melodias de vitória diferentes uma da outra. A melodia é notada como claramente pior no protótipo WIP 17. No protótipo WIP .17, os Nazgûl são mais rápidos com o botão de dificuldade esquerdo configurado para B. No entanto, o jogador recebe um bônus de pontos por jogar com o botão configurado para A. No protótipo LOTR, A dificuldade aumenta com o Nazgûl mais rápido e recebe o bônus de pontos apropriado. Segundo a resposta de Gil Williamson, o jogo estava nos planos da Parker para Odyssey)

 

Foi vocês que fizeram o design e a programação do jogo ‘STAR WARS Death Star Battle’, lançado para Atari?
Não.

 

Sobre os jogos do Sinclair Spectrum, todos foram lançados?
Não. Todos foram atingidos pelo cancelamento. Nós fizemos as versões para o Sinclair Spectrum de ‘Death Star Battle’, ‘Gyruss’, ‘Popeye’, ‘Star Wars’, ‘Montezuma’s Revenge’, ‘Q*bert’, alguns dos quais a Parker vendeu depois para a Sinclair, que lançou alguns deles em cassete sob sua própria marca.

 

O jogo Odyssey baseado em ‘Guerra nas Estrelas’ é chamado ‘Conflito Cósmico’. Pode ser este?
Acho que não. O jogo sobre ‘Guerra nas Estrelas’ da Novatrade envolvia os AT-AT Walkers e aqueles andadores do Planeta Gelado.
(Nota do Mago Odyssey: BuckyB não sabia sobre o licenciamento da Parker da franquia Star Wars, nesta resposta Gil Williamson estava se referindo ao jogo Star Wars: The Empire Strikes Back, 

 

Tudo o que vocês ainda tinham, em casa, foi para a lata de lixo depois de alguns anos, presumo eu?
Bem, surpreendentemente, foi para o lixo recentemente – há aproximadamente três anos.

 

Vocês trabalhavam sob contrato ou na base do free-lancer? Qual era o padrão no que diz respeito a programação de títulos? 
Nós trabalhávamos com um preço fixo por jogo, sem royalties, com fases de pagamentos depois do design, codificação, protótipo e final. A Parker era muito justa conosco, e nós não podíamos reclamar.

 

Da engenharia reversa para a criptografia? 
Você precisa fazer o trabalho que te dão, e nós sempre fomos uma grande equipe. Não há muitos fabricantes de software que tenham durado mais  de 20 anos!

 

Em 2022 teremos aqui no odyssey Brasil os jogos da Parker em português….