O Duelo de Xödan

Nas ruínas da quarta guerra, todo o mundo tecnológico e futurista de Xödan resumia-se a carcaças e poeira. Aquele seria o fim; depois daquela era Xödan nunca mais seria o mesmo, aos poucos sobreviventes só restou viver saqueando restos. As hierarquias tinham se acabado, a partir dali o jogo era cada um por si.

Entretanto, surgiu uma sociedade numa floresta do Oeste, conhecida como Lefulness, onde três enormes naves fechavam uma região: a primeira nave foi chamada de Greedatin, era a menor delas e foi usada pelos homens como depósito da vila; a do meio era Catherin, era a nave em que por algum milagre os comandos ainda funcionavam, facilitando as produções diversas, esta foi usada como fábrica; a terceira era Christin, a maior das naves, foi usada pelos homens como dormitório, domicílio e lar nos primeiros anos.

Era uma vila segura, de difícil acesso, poucos sabiam de sua existência, os que sabiam eram facilmente derrotados numa batalha direta, pois sempre estavam em menor número. A vila foi se expandindo à medida que Xödan evoluía, algum tempo depois já era aberta a forasteiros, sempre sob a supervisão do grande Xerife Cahill Noah, o maior xerife de Lefulness de todos os tempos. Alguns diziam que era um tipo de dom, um talento hereditário da família Noah, a fábrica dos melhores xerifes. Noah já havia vencido muitos duelos. Diz a lenda que ele matou seis bandidos que um dia tentaram saquear Alfredo, o dono do maior bar do Oeste, o Lefulbeer.

Mesmo ocupado com sua eminente evolução, o povo de Xödan nunca havia esquecido a destruição causada pela invasão a algumas centenas de anos atrás. Porém, a neurose de que um descendente inimigo ainda vivia nas terras de Xödan já havia sido esquecida pelos seres menos sábios: os homens. Ora, isto porque a ideia de um descendente daqueles perambulando por aí aterrorizava os magos, não havia coisa pior.

Um belo dia, a luz do céu estava radiante, a clientela de Alfredo estava generosa, o pianista sequer respirava durante canção, até o Xerife Noah foi passar uma hora lá dentro, pois tudo estava muito calmo. Foi então que um homem calvo que vestia roupas largas e ostentava uma enorme barba entrou no bar. Seus olhos semi cerrados demonstravam a dificuldade de sua vista em lidar com a luz do ambiente; ele mancava com um pedaço de madeira quebrado. Eis um mago cego e desesperado com seu cajado partido ao meio!

Todos ali saíram por ordem do xerife, que deitou o velho sobre duas mesas e o fez tentar abrir os olhos para mostrá-lo que estava cego, em seguida o velho disse que o descendente estava vivo, que era assustador e muito poderoso: “ele me prometeu a escuridão eterna, então exigi que medisse suas palavras, pois pensei que fosse só mais um delinquente brincando com forças que não conhecia, ele não parou, assim, ergui minha mão sobre sua cabeça, mas ele ergueu a dele mais rapidamente sobre a minha, então fechei os olhos e não consegui mais abri-los, só ouvi o som da sua risada se afastando até aqui, por isso vim.”. Ao ouvir tal depoimento, Noah entrou em estado de choque. Seu pai sempre lhe contava histórias majestosas sobre os magos. Para ele, os magos eram invencíveis, mas quando viu o primeiro mago de sua vida morrendo, ele encontrou um medo que nunca sentira antes, de que talvez a ameaça que fosse a ruína definitiva da humanidade estivesse ali, na frente de seu bar, e tinha acabado de derrotar o tão famigerado mago apenas com um toque. Ora, imagine o que ele faria com um simples homem como Noah… Ele então pensou em toda sua linhagem, nas grandes batalhas da humanidade, em todos os homens e magos que tinham lutado na linha de frente contra milhares de invasores, e decidiu que não teria medo se tivesse que enfrentar tal descendente. E assim ele deixou o velho sob os cuidados de Alfredo e saiu do bar.

Ao chegar lá fora, olhou para a esquerda, não havia ninguém, girou a cabeça levemente para a direita, desejando com o sentimento mais profundo e verdadeiro da alma não ver o descendente, mas quando completou o movimento, arregalou seus olhos, se deu com a triste confirmação daquilo que era quase iminente: era mesmo ele, parado, olhando fixa e intimamente em seus olhos! Então o xerife se virou de frente ao primogênito para encará-lo melhor, colocou primeiro o polegar no revólver, balançando os outros quatro dedos em um movimento padrão, o primogênito copiou seus movimentos, quando ele desviou seu olhar. Noah não conseguiu pensar duas vezes, apenas puxou o revólver e atirou. Imaginando o que seria, não só de seu planeta natal, mas de toda a galáxia do Odyssey se ele errasse aquele tiro.

Ele acompanhava lentamente e com muita tensão o percurso da bala, o estrondo daquele tiro fora mais alto do que nunca, o som se estendia aos seus ouvidos, seu cérebro parecia começar a chiar. A maior tensão de sua vida, a atenção voltada naquela bala era a mais concentrada de todos os tempos em toda a história de Xödan; um tiro que parecia não ter fim; um tiro glorioso ou vergonhoso; um tiro cuja o fim da rota foi a árvore ao lado do alvo.

Sua odisseia começa agora…