I – A Causa do Problema.
Pouco mais de mil anos após o conflito com a grande entidade do tempo, alguns planetas de Odyssey finalmente haviam se desenvolvido novamente. No entanto, eram raras quaisquer alianças entre eles, e isso tornava Odyssey maior do que nunca. Uma galáxia dividida por diversas culturas, raças, lados e motivos. Agora Odyssey parecia não ter fim, eram terras, águas e vazios inexploráveis. A palavra é diversidade, era o que havia. As guerras começaram, sempre em nome da nação – na verdade, por motivos insustentáveis. Existiam planetas belos, ricos, em que havia fartura nos recursos, enquanto existiam planetas pobres, sem cores e riquezas; o habitat natural de povos miseráveis, fiéis retratos da escassez. Odyssey era contraste. Mas numa linha tênue entre o rico e o miserável, estava Krez Cese.
Krez Cese era um dos maiores e mais sombrios mistérios de Odyssey. Marcado pelo enorme labirinto que pairava em sua superfície, cujas paredes brilhantes de uma forte luz azul, entrelaçadas e interligadas, formavam um desenho confuso e complexo demais para ser entendido. E as linhas azuis pareciam ser só o que existia, pois orbitavam uma superfície escura. De fato escura, pois fazia faltar a todos clareza sobre o que ocorria no solo negro.
Krez Cese por muito tempo ficou restrito às imaginações – não que imaginar Krez Cese fosse algo comum na rotina dos humanos de fora, pois, lembremos: as guerras, incessantes a todos, não davam tempo nem espaço para a imaginação humana. A guerra se tornou um grande obstáculo ao pensar dos homens. Só restava às pessoas a realidade, que por vezes podia ser cruel.
Era o caso dos cidadãos de Mitshniog: planeta rico, mas não desenvolvido. Mas é claro que esse paradoxo tem explicação: guerras internas! Homens matavam uns aos outros por território, por comida, ou então só por ímpeto.
E enquanto o sangue hidratava os campos, o rei não tomava providência alguma, e isso aborrecia a todos, da pobreza à nobreza, pois, além de indisposto a melhorar a situação do povo, ele não havia inserido o planeta de nenhuma forma na disputa galáctica por poder. Assim, nenhum habitante tinha uma grande perspectiva sobre o futuro do planeta.
Mas, uma noite o rei amanheceu morto, e o que impediu o estopim da revolta popular foi a emergência de seu filho Linuor ao poder, e esse foi quem melhorou o cenário por ali. Ele consertou a sociedade, acabou com as guerras entre sua nação e se destinou à conquista do poder galáctico. O novo rei agradou a todos. Foi à guerra, mas de forma inusitada! Seu plano era conquistar e dominar os planetas pobres, e então com um exército numeroso e um extenso território sob seu domínio, só então entrar de fato imbatível na guerra contra os poderosos. Como Mitshniog esbanjava recursos, ele podia. E assim foi feito.
II – Poder.
Em pouco tempo, dezenas de nações passaram a servir a um único comando planetário, e então começou a se consolidar o poder de Linuor, que depois viria a ser um dos maiores personagens políticos da terceira era de Odyssey.
Como líder, ele era impecável; alguém que dominava a arte do poder. Amado e temido na medida certa por seu povo, respeitado e confiado pela sua elite.
No entanto, se tudo estava bem para o povo de Mitshniog, um novo temor coletivo foi encontrado. As lendas sobre Krez Cese, casa de forças divinas, se dissipavam com cada vez mais facilidade na cultura mitshniogiana. Isso ocorria pelo fato daquela tremenda incógnita dar as caras ao fim de todos os dias no céu de Mitshniog. Os dois planetas eram vizinhos.
Era dito que lá vivia uma espécie divina pouco conhecida. A lenda conta que, há muito tempo atrás, o planeta Selector era dividido entre os deuses antigos e os Corzer. Os últimos eram imensas criaturas peludas, de formato arredondado e pelos azuis enormes e macios que os protegiam do frio que fazia naquele tempo. Criaturas que não paravam de sorrir, e essa era a marca de simpatia que tornava a coexistência entre Corzer tão pacificamente funcional… os sorrisos dóceis que trocavam entre si a todo momento!
As antenas sensíveis os permitiam comunicar-se entre si e sentir a vibração de cada asa minúscula de inseto que batia no ar. Os olhos grandes provinham aos Corzer uma visão avantajada – “enxergavam através de tudo”, diziam as lendas. Mas a vinda dos homens ao plano da vida foi chocante para os Corzer, pois aqueles se adaptaram melhor ao mundo caloroso e iluminado que se transformou, e além disso conseguiram fazer do mundo um lugar sem guerras, em paz – se as batalhas entre os deuses antigos e os Corzer permanecessem, a vida teria fim. Desde a então extinção, os azuis nunca mais foram vistos, tornaram-se seres raros. E os boatos que corriam em Mitshniog eram sobre o comportamento da espécie: Dizia-se que eram ótimos estrategistas bélicos, de capacidades mentais e físicas quase imensuráveis, mas o mais notório era o temperamento; a raiva, mas um tipo de raiva que era incomum a todas as espécies. Em combate, os sorrisos dóceis se tornavam perversos; a marca de simpatia que trocavam entre si virava a imagem da insanidade frente a inimigos no campo de batalha. E é no campo de batalha que vêm à tona as afiadas presas outrora escondidas pelos seus lábios; é dessa forma que eles enchem o campo de sangue inimigo, e não param de sorrir. A raiva não os deixa cansarem-se. E foi por isso que essa espécie foi o principal motivo da extinção dos poderosos deuses antigos e seu mais terrível líder.
III – Conquistador.
Mas estes eram apenas boatos, e mesmo se fossem reais, pelo menos para o rei Linuor, valia o risco. Dominar Krez Cese poderia ser a garantia do tão sonhado poder ilimitado na galáxia – e em última instância, no universo. Linuor sonhava alto, pois assim se acostumou! – O rei nunca havia perdido uma batalha. Seria completamente imbatível com um exército de elite feito destes grandes e agressivos azuis – se é que eles existiam, ou então, se existissem, se é que eram mesmo dessa forma. O rei tinha dúvidas quanto a isso, porém, não poderia arriscar tudo por uma intuição – por isso ele tinha uma carta na manga.
Linuor então começou a planejar o ataque contra Krez Cese. Para isso, ele estudou muito dia após dia sobre os Corzer, até, após alguns meses, se sentir pronto para o ataque. Diante dele estava aquele planeta negro rabiscado pelo azul: seu desejo mais profundo, e ao mesmo tempo, só o que lhe restava. Por isso, nada tinha a perder, então as frotas numerosas e treinadas rumaram ao planeta vizinho.
A cena era imponente. No vácuo do espaço escuro, milhares de naves azuis orbitando uma imensa nave dourada e azul, como se fossem milhares de membros para um único cérebro, e todas as naves eram reluzentes. Perto da central, de proporções planetárias, as outras que a rodeavam eram pontos brilhantes. Impossível era, daquele ângulo macro, enxergar as pessoas nas cabines das naves, então bastava aproximar a vista ao centro do quadro, num zoom extenso, até chegar na figura de Linuor, sedenta pelo que havia de encontrar, quase transcendendo o medo daquele desconhecido, que era a única coisa que o mantinha ainda com os pés no chão. Seus olhos fixos no planeta brilhavam da luz refletida pelos rabiscos azuis de Krez Cese. Então, a invasão teve início quando a grande nave na qual estava o rei parou, ali mesmo, à distância, e os pequenos membros seguiram em direção à superfície.
IV – Em descompasso.
As tropas do rei Linuor atracaram então no solo, a bordo de, agora, grandes e reluzentes naves azuis.
Mantinham contato direto com o comando central na nave-mãe. Desceram atentos, então perceberam que aquilo se tratava de um labirinto infinito, e o brilhante azul eram as enormes paredes que o formavam. O solo escuro, algo parecido com terra; as paredes eram grandes leds que queimavam a qualquer contato, o cheiro não era ruim, na verdade, desconhecido por eles. E o mais peculiar: o solo dava leves tremidas frequentemente, como se respondesse a impactos constantes de alguma coisa abaixo dele. Era um tanto desesperador, mas até então tudo estava calmo, nada de assustador havia aparecido. Diante da forte tensão, os soldados seguiam juntos rumo a algum lugar do labirinto, em tropas de frotas completas, muito numerosas, até um tanto confiantes por isso. Após uma hora de caminhada das tropas, nada encontrado era sinal de que talvez não houvesse nada para encontrar ali. Linuor estranhou, mandou que retornassem às naves. Foi então que, da visão macro da nave-mãe, o rei viu algo estranho na superfície do planeta, que parecia mesmo ser um Corz, correndo a passos bizarros e num compasso animado e desajeitado. O bicho era grande. Foi se aproximando das naves, e deu pra ver: ele era do tamanho de uma nave, sendo que em cada nave cabiam 50 homens. O pulso de Linuor pulsou mais forte. Ele mandou que as tropas parassem imediatamente onde estavam, que não voltassem às naves, quando a resposta quase simultânea e quase desesperada de todos os seus capitães foi de que estavam perdidos. “As paredes são confusas!”
E o coração de Linuor pulsou mais forte quando ele encontrou à vista uma das suas tropas, viu se aproximando dela um Corz. Ele andava rápido, em descompasso, cambaleando, sorrindo, e parecia conhecer cada caminho daquele labirinto. Parecia saber como chegar aos visitantes de Krez Cese. Mas cada tropa devia ter mais de mil homens, eles dariam conta de um só Corz. O problema para Linuor foi quando ele percebeu mais duas criaturas, vindo de direções opostas no labirinto, indo a caminho dessa mesma tropa. Então o rei percebeu que os malditos estavam cercando sua tropa, e quando olhou para os outros enxames de homens, igualmente sendo cercados pelas criaturas azuis estabanadas. Eles eram muito maiores que os homens.
Linuor percebeu o que estava acontecendo, e novamente, simultaneamente os capitães alegaram “um tremor cada vez mais intenso no solo!”. O rei lhes respondeu em tom calmo e sério: “vocês estão cercados! Estejam a postos e preparados para iminentes ataques.”. Era pavoroso, mas Linuor, de dentro da nave-mãe, longe de tudo aquilo, parecia manter tudo sob controle, e isso assustava os tripulantes que dividiam esta cabine da nave-mãe com ele. O homem era frio, e talvez estivesse pronto para blefar a troco da morte de milhares de soldados!
Então, pelos canais da cabine ouviu-se os tiros. Os ataques haviam começado. E também começaram os gritos. Ouvindo os efeitos sonoros, Linuor ficou a assistir o espetáculo dali mesmo; conseguia ver quase somente os movimentos bruscos das grandes criaturas azuis atacando seus enxames humanos. Dava para ver de longe, eles não tiravam mesmo o sorriso do rosto, e a expressão de Linuor também se manteve, calmo e pensativo.
Logo o terror auditivo acabou, e os Corzer nem ao menos comemoraram a vitória, apenas continuaram sorrindo e correram em descompasso em direção a outro lugar: as naves. Então Linuor mandou que a ‘frota-carrasco’ atracasse no mesmo local que as outras. O espanto era que o rei tinha à espera uma frota de elite… Aqueles homens foram todos doados à fúria dos Corzer como um experimento. Mas ninguém tinha coragem de contestar o rei, ainda mais naquele momento.
Foi quando a frota-carrasco atracou que um notável disparo de luz saiu da nave da frota em direção ao Corz que lá estava desde o início. Ele só deu um grito antes de cair, e ao bater de seu corpo no chão, um sorriso de canto invadiu o semblante do rei. Tudo estava dando certo.
Depois do grito, ninhadas de outros azuis emergiram do hemisfério oposto do pequeno planeta Krez Cese. Corriam com o mesmo sorriso bizarro, e da mesma forma desastrada, mas dava para ver que ali tinha raiva. Assim, todos os Corzer do planeta com fervor atrás da frota de elite. Não ia dar nem para o cheiro, eram centenas de Corzer velozes. No entanto, o sorriso do rei apenas crescia… Ele tinha uma carta na manga!
V – Carta na manga!
Linuor não poderia ter contado apenas com sua intuição, então realizou a construção daquilo que viria a ser o feito mais notório de sua era: o Satélite RUV, popularmente conhecido como “a Corzicida”. Uma nave com proporções planetárias, que, milagrosamente imitando os efeitos do antigo e poderoso Sol, emitiria raios ultra violeta numa intensidade potencialmente amplificada, de forma que uma rajada pudesse conter a mesma intensidade massiva de um Sol inteiro. E essa invenção homicida tinha como primeiro alvo exclusivo a raça Corzeana de Krez Cese; assim, a homicida de Corzer – “a Corzicida”, a sua carta na manga.
Essa era a nave-mãe, em que se encontrava o rei Linuor naquele momento da invasão. O plano era levar toda a raça a um mesmo ponto do planeta, e então empregar devidamente a Corzicida, exterminando a espécie inteira com uma só rajada – já que a Corzicida demorava meses para ter um disparo recarregado.
Linuor sempre soube da grande possibilidade de os Corzer serem violentamente indomáveis, e por isso passaram a ser dispensáveis no seu plano. Ao invés disso, havia algo… Alguém maior!
VI – Núcleos.
Há muito tempo, ainda na primeira era, quando nem mesmo o Sol havia ainda florescido ao seu esplendor, Selector era quase inteiro congelado, e os deuses antigos eram os únicos habitantes, mas eram imaturos com o poder. Criavam e eliminavam espécies apenas para o divertimento, mas num lugar inóspito, dentro de uma caverna, a mãe Odyssey foi quem criou uma espécie naturalmente, e a deixou florescer; estes eram os Corzer. A espécie evoluiu e se reproduziu na escuridão da caverna, onde estavam despercebidos dos sensores divinos dos deuses. Um dia, um Corz encontrou uma saída daquela imensa caverna, mas se deparou com a luz do Sol, que parecia cegá-lo. Assim, os Corzer descobriram o mundo, que só poderiam explorar de noite, e então o fizeram.
Exploraram Selector, até encontrarem o primeiro deus com quem tiveram contato. Ali, o deus curioso chegou perto das criaturas para vê-las e analisá-las, como se fossem atrações de um espetáculo. Então, a rincha entre deuses e Corzer teve início, quando, depois de terminar sua análise, o rei moveu um ataque fatal contra os 2 Corzer que ali estavam. Foi morte súbita, e as antenas de todos os azuis de Selector vibraram, avisando que tinham um novo inimigo.
Assim, durante as saídas dos Corzer pela noite, eles caçavam deuses e, num rito em nome dos primeiros Corzer mortos, comiam o deus que caçavam e matavam a cada noite. Eles iam em grupo, estrategicamente e sutilmente, e quando encontravam um deus sozinho, era certeza que a caça estava concluída.
Até que os deuses perceberam a falta dos seus, e decidiram que era preciso organizar-se para esperar os ataques e reagirem contra as “criaturas da noite”. Decidiu-se então que precisavam de um líder para comandar os deuses, e sem haver contestação, o escolhido foi Dratapilar, o deus mais poderoso. Era um deus incomum, de aparência e forma estranhas, e vindo de outro plano… Um lugar chamado Vênus. Ninguém sabia muito sobre ele, mas era o mais poderoso, e isso bastou.
Ele andava acompanhado de 2 criaturas, que chamava de Drats, e o ajudariam a defender-se de iminentes ataques corzeanos.
O fato é que Dratapilar era um estrategista sério. Desejava criar uma espécie numerosa e reinar soberano. Portanto, por ser tal exímio estrategista, foi quem conseguiu resistir à espécie. Numa das caçadas, ele observou os Corzer, de onde vinham, para onde iam ao amanhecer, e então descobriu a caverna em que se abrigavam de dia. Planejou um ataque à luz do dia contra a caverna, reuniu os deuses que haviam restado dos ataques. Estavam em menor número, mas eles eram deuses, e foram fervorosos ao ataque, e essa batalha marcou a primeira grande guerra de Odyssey, especialmente pela carnificina. Ali, os deuses quase todos morreram, pois os Corzer esperavam pelo ataque, e se esconderam, fazendo com que os atacantes se separassem pela grande caverna para procurar-lhes. Novamente, um a um, estavam sendo mortos, muitos perdidos na escuridão da caverna, e num plano parecido ao do rei Linuor, quando todas as iscas se foram, os enxames azuis foram em busca do líder Dratapilar, que os aguardava pleno no início da caverna. Quando chegaram à presa, o deus mandou que entrassem. Ele havia criado um grande exército de Drats, e estas criaturas lutavam como os Corzer, com a mesma ferocidade, a diferença era que os Drats não morriam.
Estes servos não foram criados por Dratapilar, mas sim resgatados por ele do reino dos mortos. Os Drats eram Corzer que haviam morrido e eram ressuscitados do reino da Sra. Morte por Dratapilar para lutar essa guerra. Portanto, quando um Drat morria em combate, sua alma ficava apenas por alguns segundos no reino da morte, até que voltassem novamente ao corpo.
E os 2 servos leais de Dratapilar foram os 2 primeiros Corzer mortos.
Os Drats foram a ruína dos Corzer. A batalha foi acirrada. Todos se matando aos berros, mas Dratapilar estava intacto, com sua calda pulsando, e um Corz percebeu isso. Este era Krez Cese, aquele que comeu Dratapilar vivo pela calda, só deixando sobrar a cabeça, ainda viva, porém inofensiva. Assim, Krez Cese acabou com a batalha, os Drats voltaram para descansar no reino dos mortos, exceto os seus 2 fiéis, que tiveram um fim como o do líder.
Foi então, segundo a lenda, a primeira vez que a mãe Odyssey agiu diretamente: empregou uma parte do seu poder na criação de uma prisão para aquele ameaçador intruso em seu Plano. Numa estrela sem luz, muito distante de Selector, a cabeça do deus humilhado e seus 2 servos fiéis foram aprisionados no núcleo desta pequena estrela, mas Dratapilar se recuperaria, e para que esta prisão fosse realmente segura, ela teria de ser selada com magia. Uma enorme runa mágica que contornava a pequena estrela foi feita e selada em si, azul brilhante, desenhada como um labirinto, onde todas as linhas se entrelaçavam e deixavam a prisão mais forte. Aquele muro era pura magia, arquitetado inteiramente por Odyssey, na estrela que foi nomeada em homenagem ao maior carrasco do Dratapilar, pelas lendas, popularmente conhecido como o “come-come deuses”, ou só “come-come”! Este era Krez Cese.
VII – K.C. Munchkin.
E esta era Krez Cese, sob a mira e sujeita à intensa rajada solar da nave-mãe do rei Linuor, que em seguida destruiu aquele enxame de Corzer que ali estava, e junto com eles uma parte do muro azul, assim quebrou a cela da runa mágica… O resultado foi o esperado por Linuor; o plano que tinha de dominar, ao invés de uma criatura, um criador: saiu do núcleo Dratapilar; foi liberto.
Era sólido, como uma pedra lisa dourada, que não se quebrava – exceto contra os dentes de um Corz -, brilhava dourado. Ele era a luz de Krez Cese, o coração que palpitava como se estivesse vivo. A imagem do poder podia ser contemplada por Linuor, estava ali, ao seu alcance.
E foi assim, mais rápido que os olhos do rei, o mal retornou. A reação do núcleo ao impacto do tiro foi imediata. A terra vibrou, rachou. Ali se ergueu Dratapilar, o primeiro invasor. O primeiro medo da história de Selector. O motivo do primeiro calafrio de horror, raíz do primeiro ímpeto de desesperança. Pioneiro das trevas.
E junto a ele, emergiram os 2 Drats, os guerreiros fiéis do deus do apocalipse, a quem devem sua vida e sua honra, e por quem estão decididos a morrer em batalha, passar pelo inferno e retornar ao campo para morrer novamente. Vivos da única vida pior que a morte, porém vivos!
A reação do monstro dourado provocou o maior sentimento de medo em todos os homens que assistiam ao espetáculo, e só alcançou Linuor quando ele percebeu o deus vindo em sua direção.
O rei calado, olhava nos olhos do deus, que chegava cada vez mais perto com seus Drats em alta velocidade. A morte ficou certa, mas a preocupação do rei agora não era a morte, mas o futuro da galáxia quando aquela coisa fosse além dali; o que seria do universo. Por alguns segundos a majestosa pessoa do rei Linuor foi reduzida a um mero mortal, e ali, naquele momento, os atos e sacrifícios imorais pela busca ao poder pareceram não ter valido a pena; tal como envenenar o próprio pai para ascender ao topo – era até então seu maior motivo de remorso. Não valeu a pena, e talvez também não a tenha valido extinguir uma espécie inteira em nome dessa mesma causa.
Foi quando o deus serpente parou de se aproximar, começou a regredir de volta a Krez Cese – contra a sua vontade, ao que parecia. Algo lhe puxava, lhe jogava contra o solo de Krez Cese e lhe dispunha ali uma grande batalha.
Graças aos magos! Graças a Odyssey! O condutor do ato genocida pôde respirar: um Corz havia sobrevivido ao Corzicídio; um, apenas um, mas também UM, estava longe do raio do disparo. Ali, na sua frente, o novo come-come, o último Corz, preso no grande labirinto de paredes azuis com Dratapilar, o terrível, e os Drats, os 2 primeiros mortos, seus servos. Ou talvez estes últimos estivessem presos com o come-come, feroz e ávido no cumprimento de sua última missão; para fazer aquilo que Odyssey condicionou sua espécie a fazer: deter até o último deus.
De cima, o rei Linuor agora era outra pessoa, e era quem tinha o privilégio de estar de cima. Ele tinha a visão macro do labirinto e a mesma intenção que o come-come. Por isso, o jogo seria o seguinte: ele conduziria o devorador de deuses diante do labirinto. Indicaria onde ir, e onde não ir, e as sensíveis antenas do azul captariam cada comando do rei. Contra o deus mais poderoso, a esperança era a parceria entre um Corz e um humano, só lhes restava jogar.