O show de raios laser da Philips e a UD 1983

Para os fãs brasileiros do Odyssey, aquele dia 14 de abril de 1983, talvez tenha sido um dos dias mais especiais em suas lembranças, foi quando a Philips apresentou o Odyssey na UD, a feira de Ultilidades Domésticas que acontecia em São Paulo. Para você ter uma ideia, a UD era a feira que a indústria usava para anunciar as suas novidades e todos ficavam esperando anciosamente a chegada do evento durante todo ano.

A Philips era a maior empresa de eletro eletrônicos do Brasil e iria anunciar neste dia duas grandes novidades, o lançamento do cd e a chegada do Odyssey ao país. O lançamento do CD foi uma revolução épica, iniciava-se assim a era do som digital ao alcance dos lares brasileiros e a Philips iluminou os céus de São Paulo com um show de raios laser naquela noite de 14 abril de 1983.

Em 1983 o conceito de futuro em tecnologia era uma coisa muito grandiosa. Espaço, raios laser, filmes como 2001, uma odisséia no espaço, E.T. O Extra Terreste faziam a cabeça de meninada nesta época. Foi uma grande festa que a Philips promoveu naquela UD com o maior estande da feira e o Odyssey havia chegado oficialmente ao país e iria ser fabricado na Zona Franca de Manaus.

Veja a página que a Philips publicou nos jornais de São Paulo anunciando a festa para o dia 14 de abril.

 

O ANÚNCIO DA PHILIPS PARA UD DE 1983

ESPETÁCULO DE LASER ILUMINA O CÉU DA CIDADE

No dia 15 de abril de 1983 a Folha de São Paulo publicou matéria transcrita aqui sobre o evento dos raios laser nos céus de São Paulo.

As linhas luminosas, transmitidas do parque Anhembi, puderam ser observadas em vários pontos da cidade

“Já que não temos mais estrelas, seria bom que espalhassem uns instrumentos desses por ai.” O professor aposentado Alberto Condez olhou para o céu e se impressionou com os feixes esverdeados de raios laser projetados por um canhão instalado sob uma marquise do Parque Anhembi, na noite de ontem. O espetáculo, promovido pela Phillips, teve outro ponto de emissão, no alto do prédio da sede da empresa, na esquina da av. Paulista com a rua Bela Cintra, atraindo a atenção dos paulistanos.

Formas geométricas indefinidas, ziguezagues, túneis, estrelas, raios e quadrados foram as figuras projetadas em constante movimentação, e visíveis com perfeição num raio máximo de 2,5 quilômetros. O evento, que faz parte do programa da 29a UD — Feira de Utilidades Domésticas, estará sendo apresentado todas as noites, até 24 de abril, no peródo das 19 ás 24 horas.

Concebido por uma empresa norte-americana, a SFC — Science Fiction Corporation, o show marca o lan-çamento internacional do Compact Disc Digital Audio, um disco gravado e lido por raio laser, que será produzido no País em 84.

A PROJEÇÃO
Os raios de laser, uma luz de altíssima intensidade, são emitidos por um projetor de 2m5 de comprimento, As formas luminosas são elaboradas por um minicomputador. Após sair da fonte, o raio, com diâmetro de 2,5 milímetros e potência de 18 watts, passa por uma câmara de gás que provoca a sua coloração,

A seguir, o facho se introduz num instrumento ótico, de forma prismática, que o divide em centenas de segnientos, formando os contornos de dezenas de figuras.

Segundo Jacinto Iacovani, gerente do grupo de apoio de marketing da Phillips, esse tipo de espetáculo tem sido muito comum em festas públicas nos EUA e Europa. Para operar os dois projetores, vieram cinco técnicos da empresa norte-americana, que pretende ainda realizar outros espetáculos por outras cidades do Brasil.

No Anhembi, centenas de pessoas acompanharam o espetáculo, e muitas comentavam o eventual “perigo” de que o laser pudesse provocar ferimentos ou queima-duras, hipótese afastada pelos técnicos norte-americanos, que chegaram a colocar as mãos diante do projetor.

Mas a desinformação maior foi de um motorista de táxi, que acreditava estarem sendo feitos testes pela Policia, de um novo mecanismo para “procurar ladrões”.

 

A ALTA TECNOLOGIA CHEGA À UD

Em seguida também transcrevemos a parte que se refere aos videogames de uma matéria especial que a Folha publicou dia 20 de abril falando sobre a UD.

JOVENS E CRIANÇAS IMPRESSIONAM-SE MAIS COM OS JOGOS DO FUTURO
Ao lado do disco a laser, a outra grande atração desta UD são os vídeo-games. Nos estandes, eles são procurados com avidez principalmente por jovens e crianças. E os dois principais lançamentos neste setor são o Atari, que será colocado no mercado em agosto pela Polyvox, e o Odyssey, que a Philips começa a comercializar no mês que vem. O Atari é composto por um console central VCS 2600, adaptador para corrente alternada, duas alavancas de controle (joysticks) e mais dois outros controles para determinados tipos de jogos. Até o final do ano, a Polyvox estima vender mais de 100 mil consoles, segundo os cálculos de Eugênio Staub, presidente do grupo MB, do qual a empresa faz parte. Para ele “o potencial do mercado é enorme, evidencia-do pela existência de 8 milhões e meio de domicílios com TV em cores noPaís ‘ e pelo fato de que já entraram no país 80 mil consoles, apesar de todas as dificuldades de importação.

Planos mais modestos tem a Philips com relação ao seu odyssey. Até o final do ano a expectativa der venda é de 50 mil consoles, conforme Franco Consolinni, gerente geral do grupo comercial vídeo da empresa. Em cinco anos, porém, a Philips espera abocanhar 40% do mercado de vídeo-games, se apenas três empresas estiverem concorrendo. Consolini calcula que neste período 10% dos lares que possuirão televisão em cores (urn total de 12 milhões até lá) devem ter vídeo-games. O que equivale dizer que em 1988 deveremos ter 1 milhão e 200 mil consoles no País.

O Odyssey vai ser comercializado inicialmente só no Rio de Janeiro e em São Paulo e seu preço deveficar em torno dos Cr$ 150 mil. Num primeiro momento, 15 jogos diferentes estarão disponíveis aos consumidores. Quanto ao Atari, serão 28 os jogos lançados com o console, número que deve aumentar mensalmente.

 

OS JOGOS QUE VÃO ATRAIR OS GASTOS COM LAZER DOMÉSTICO

Damos continuidade  a transcrição do Especial UD da Folha de São Paulo sobre os Videogames. Esta matéria foi escrita por  Roberto Junui

A batalha dos videojogos chegou ao Brasil, Na semana passada, três empresas — Polyvox, Philips e Computerland — anunciaram o lançamento de três modelos diferentes, dispostos a desbravar um mercado que até agora vinha sendo suprido pelos contrabandistas, com aparelhos que precisavam sofrer adaptação para o padrão brasileiro de TV em cores, Esses modelos estão sendo expostos na 29a Feira de Utilidades Domésticas (UD), no Parque Anhembi.

Quem sai na frente nessa batalha é uma pequena empresa de São Paulo, a Computerland, que distribui um videojogo em tudo (até no nome) semelhante ao Atari americano: o Dactari, O produto é fabricado em São Paulo, no bairro de Moema, pela Sayfi Computadores e está nas lojas ao preço de 160 mil cruzeiros. Os cartuchos são os mesmos da Atari (já produzidos no Brasil também pela Dynacon) e podem ser encontrados cm vários videoclubes. Quem quiser ter o cartucho em casa, pode cornprá-lo da própria Computer-land: são 60 títulos (que a empresa pretende expandir para 150) ao preço, de Cr$ 14 mil.

Os planos da Computeriand, que garante produzir os aparelhos com 90% de nacionalização, são modestos: a produção é de apenas 3 mil na primeira fase, No começo, o produto só vai ser encontrado nas lojas de São Paulo, Artur Ribeiro Dias, o presidente da Computerlaud, não tem maiores planos de expansão, “Não vamos dar um salto muito grande para não tomarmos também um tombo muito grande”, raciocina ele.

COM TECLADO
O segundo a entrar no mercado de video jogos será a poderosa multinacional holandesa Philips: dentro de 20 dias a empresa coloca nas lojas o Odyssey (VideoPac na Europa), que será vendido por 150 mil cruzeiros, O aparelho é totalmente diferente do Atari e não fundiona com os cartuchos dessa marca existentes nos videoclubes.

Para compensar esse problema de compatibilidade, a Philips exibe uma série de recursos não encontrados nos modelos Atari existentes no Brasil, como o teclado alfanumérico, que possibilita a introdução de números e letras no video. A máquina,aliás parece uma máquina de escrever. Graças à possibilidade de manipulação das letras e números, ‘esse videojogo tem também caráter educativo. O teclado permite ainda escrever os nomes dos recordistas na tela do televisor, estimulando a competitividade.

Na fase inicial, a Philips vai lançar 15 cartuchos de jogos (veja a relação), divididos em três séries: ação (a maioria), esportivos e educativos. Os preços dos cartuchos variarão
entre 17 e 20 mil cruzeiros, Até o final do ano, serão lançados mais 30 cartuchos.

O Odyssey está sendo produzido na Zona Franca de Manaus e a estimativa da. Philips é de comercializar 50 mil aparelhos e 200 mil cartuchos até o final do ano. A nacionalização estará em torno de 60%.

O ATARI
A Computerland e a Philips saem na frente, mas quem parece estar com os trunfos nas mãos é a Polyvox, uma das empresas do grupo Gradiente, que conseguiu firmar um acordo para a produção do Atari no Brasil. A empresa só conseguirá lançar seu modelo em agosto próximo, mas tem uma série de vantagens em relação aos seus concorrentes: a mística do nome Atari (considerada pela revista “Advertising Age” a segunda em prestígio nos EUA, só superada pela Coca-Cola), e o grande número de videojogos dessa marca já existentes no País.

Eugênio Staub, o presidente da Gradiente, calcula que já foram introduzidos — por contrabando, através da Zona. Franca de Manaus ou por meio de viajantes — cerca de 80 mil aparelhos de videojogos no Brasil, a esmagadora maioria da marca Atari, Além disso, os videoclubes só trabalham com cartuchos. Atari.

As expectativas de Staub são bastante otimistas: ele prevê a fabricação de 100 mil consoles entre agosto e dezembro, que deverão corresponder a cerca de 20% do faturamento do grupo. Se fosse vendido hoje, cada aparelho. acompanhado de um cartucho, custaria 119 mil cruzeiros. Os preços dos cartuchos seriam variáveis, de Cr$ 13,900 a Cr$ 18,900. O índice de nacionalização será de 32% na primeira fase e de 60% a partir de 84,

PRODUTO DA RECESSÃO
O otimismo da Polyvox tem uma razão de ser: segundo Eugênio Staub, presidente do grupo Gradiente, o Atari é um produto da recessão”. Prova disso é a espantosa expansão da empresa, criada modestamente em 1976 e que num curto período — de 1980 a 1982, exatamente durante a mais aguda crise da economia americana desde 1929 — tornou-se uma gigante do setor de microeletrônica, com faturamento de 2 bilhões de dólares em 1982 com a recessão, diz Staub, as famílias preferem investir em lazer doméstico, que não exija muitos gastos.

A Atari, hoje pertencente ao conglomerado da Warner Communications, é o maior consumidor de peças de microeletrônica, dos EUA, e domina cerca de 70% do mercado americano de videojogos.

Obs. A imagem usada para ilustras o artigo foi recriada, não é original.