O dia em que o sol cessou

Não estou certo sobre o momento em que a rampa de ascensão da humanidade declinou; de quando o destino da humanidade deixou de ser a harmonia da coexistência e passou a ser a sua ruína. Talvez tenha sido antes da grande invasão, quando o sólido Poder Central de Odyssey permitiu que a desordem penetrasse naquele corpo social tão entrosado em si; quando, em seu único passo em falso, o Poder Central decidiu aderir à viagem no tempo como método para resolver os problemas históricos – e que decisão descabível: mudar o passado para alcançar a estabilidade social?! Típico dos homens. Enfim, não sei ao certo quando, mas a partir de algum momento, o tempo passou a ser traiçoeiro com essa espécie, que também aderiu o método da auto mutilação.

No entanto, para não me estender tanto, chego logo ao ponto que quero: o dia, a hora e o momento exato em que a humanidade, em seu percurso, de fato cedeu às trevas. Nesta única folha registrarei – com descrição subjetiva, mas destino objetivo – o dia em que o Sol cessou, e assim o ingresso das trevas nas entranhas de Odyssey. Porém, pouparei o texto do contexto a que pertence o acontecimento descrito (logo mais no conto Contra o Tempo).

Jardineiros regavam, mensageiros corriam, pessoas nasciam, outras morriam; a vida era sutil e o dia era comum como qualquer outro, até que então a noite pairou.

Não era normal, àquela hora os dias eram brilhantes, a luz solar ressaltava as cores e trazia nitidez às vistas e calor aos corpos, mas cessou. Subitamente, quando as pessoas buscaram o Sol com os olhos, não encontraram. O dia de repente virou noite, e nada se via senão as pequenas estrelas que implodiam naturalmente nos céus de Odyssey. Assim permaneceu até que as lâmpadas fossem acesas: primeiro as casas, cada cômodo habitado, depois as ruas, os lugares públicos, as Luz-Satélicas e assim os planetas, logo, Odyssey… A galáxia parecia um grande edifício, e os planetas suas janelas vivas.

Logo depois disso aconteceu bruscamente o grande ataque das forças trevanas do Sr. do Tempo, e então aquele grande sistema interligado e entrosado que era Odyssey se tornou um lugar obscuro, extenso, diverso e perigoso; reais espaços de ninguém. De fato, a raça humana foi severamente mutilada, e a harmonia da coexistência foi partida mil vezes, triturada.

Curioso: desde que as trevas tomaram Odyssey, a galáxia pré-trevas é vista como utopia, onde as coisas davam certo, mas sabemos… Pelos magos – Eu Sei! que não era assim. Se trata de um lugar politicamente imoral; suscetível à corrupção, totalitária a tal ponto que os povos, de maneira geral, estavam nas mãos do Poder Central. Obviamente era estável, mas certamente que cidadãos atuais não suportariam essa época. Por fim, Odyssey apenas agora é diferente, mas o mal é outro. Essa é a minha concepção! Mas não posso esquecer que não sou comum…

Ora, leitor, se existir, sem querer cheguei no destino que desejava: o mal não nasceu das trevas, e a humanidade cavou seu próprio poço e se jogou nele. Logo, o bem também não nasceu da luz, nem contra as trevas. O bem habita em olhos que enxergam as coisas e suas sombras; além do que de fato existe. Magos, com seu orgulho – não condenável, claro, mas impossibilitador da posse do chamado “bem”. Não tão simples, mas não tão complicado assim, os heróis e suas aventuras são, além de admiráveis, importantes, não apenas contra as trevas, mas contra o mal que você não ouve, nem vê, nem entende! – salvo se você for um herói…

E esse é o fim desta descrição, mais uma reflexão quase sem anedotas. Mas prometi uma folha apenas – não que haja leitor, mas se um dia encontrarem os escritos de Orisus, desejo passar a visão correta, pois os magos sabem: eu estou certo! Agora devo ir, há uma história à minha espera. Adeus!

dos Textos perdidos de Orisus